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Filosofia & Ciências

20/02/2019

Morre o filósofo e escritor italiano Umberto Eco

G1

O filósofo, semiólogo e romancista italiano Umberto Eco, autor de "O nome da rosa" e "O pêndulo de Foucault", morreu nesta sexta-feira (19), segundo os jornais italianos "La Repubblica" e "Corriere della Sera". A informação foi dada por um familiar do escritor ao "La Repubblica", que diz que Eco morreu aos 84 anos em sua casa às 22h30 do horário local (19h30 pelo horário de Brasília).

A causa da morte não foi informada. Segundo a agência de notícias France Presse, o escritor lutava contra um câncer.
Nascido no dia 5 de janeiro de 1932, em Alessandria, também Itália, Umberto Eco ainda ficou conhecido por sua carreira como escritor.

Umberto Eco nasceu na cidade de Alexandria, no dia 5 de janeiro de 1932. Quando pequeno, durante a Segunda Guerra Mundial, se mudou com sua mãe para um pequeno vilarejo na região montanhosa de Piemonte. Seu pai, um contador que vinha de uma família de 13 filhos, foi convocado para lutar em três guerras.

Seu pai queria que Umberto estudasse direito, mas ele decidiu entrar na Universidade de Turin para estudar filosofia medieval e literatura. Mais tarde, Umberto também foi professor na mesma Universidade.

Capa do livro O Nome da Rosa, versão italiana, apresenta a ilustração de um castelo medieval.
Ele trabalhou como editor de cultura no canal de televisão RAI, onde conheceu um grupo de escritores, pintores e músicos que o influenciou em sua futura carreira de escritor.

Em setembro de 1962, Eco se casou com Renate Ramge, uma professora de arte alemã com quem teve dois filhos. Ele dividia seu tempo entre um apartamento em Milão, onde tinha uma biblioteca de 30 mil volumes, e uma casa de veraneio perto de Rimini, em que ficavam 20 mil exemplares.

Em 1992 e 1993, Eco foi professor na Universidade Harvard, nos Estados Unidos. Ele também lecionou nas universidades de Oxford, Columbia e Indiana, na Universidade de San Marino e na Universidade de Bologna, onde era presidente da Faculdade de Ciências Humanas.

Segundo o jornal britânico “The Guardian”, o autor uma vez disse que escrever era apenas uma ocupação parcial. “Sou um filósofo, escrevo romances nos fins de semana”, afirmou.

Ao mesmo jornal inglês, ele disse no ano passado que não sabia o que o leitor esperava. “Acho que Barbara Cartland [escritora britânica] escreve o que os leitores esperam. Acho que um escritor deveria escrever o que o leitor não espera. A questão é não perguntar o que eles precisam, mas muda-los... produzir o tipo de leitor que você quer para cada história”.

Obras

O escritor é conhecido por seu romance "O nome da rosa" publicado em 1980. O livro combina semiótica, ficção, análise bíblica, estudos medievais e teoria literária. Conta a história do frei Guilherme de Baskerville, enviado para investigar o caso de um mosteiro franciscano italiano, cujos monges são suspeitos de cometer heresias. A história, que se passa em 1327, envolve mortes misteriosas, crueldade e sedução erótica.

Em 1986 foi lançado o filme de mesmo nome, dirigido por Jean-Jacques Annaud e estrelado pelo ator Sean Connery.

Entre suas obras mais conhecidas também estão os romances "O Pêndulo de Foucault" (1988) e "O Cemitério de Praga" (2010), além dos ensaios "A Estrutura Ausente" e "História da Beleza". Seu último romance "O número Zero" foi publicado no ano passado. Leia a crítica do blog Máquina de Escrever, do G1.

Eco já tinha quase 50 anos quando começou a escrever romances, após uma bem sucedida carreira acadêmica. Já era autor de vários livros de não ficção e de ensaios quando decidiu buscar novos desafios.

"Num certo momento, decidi escrever uma história. Eu não tinha mais filhos pequenos para os quais contar histórias", afirmou o autor à Reuters em 2011, sentado na beirada de uma poltrona, vestido de forma casual com jaqueta de "tweed", camisa de brim e gravata de tricô.

"Quando a gente começa a escrever um livro, especialmente um romance, até a pessoa mais humilde do mundo espera virar um Homero [poeta épico da Grécia Antiga]", disse Eco em tom brincalhão.

Em uma entrevista à revista Vogue em 1995, Eco admitiu que não era um autor de fácil leitura. “As pessoas sempre me perguntam ‘como seus romances, que são tão difíceis, fazem sucesso?’. Ofendo-me com a pergunta. É como se perguntassem a uma mulher ‘como os homens se interessam por você?’... eu mesmo gosto de livros fáceis que me colocam para dormir imediatamente”, ironizou.

'Papa da globalização'

Em 2013, Eco foi agraciado com a medalha de ouro à cultura italiana na Argentina pela Società Itália Argentina (SIA), em um ato na sede do Ministério das Relações Exteriores da Itália.

Dias depois, ele comentou a escolha pelo Vaticano do Papa Francisco, nascido na Argentina, para ocupar o cargo na Igreja Católica. O escritor definiu Francisco como "o papa da globalização" e opinou que representa algo "absolutamente novo" na história da Igreja Católica.

"Estou convencido que o Papa Francisco está representando um fato absolutamente novo na história da Igreja e, talvez, na história do mundo", disse Eco em entrevista publicada à época pelo jornal argentino "La Nación".

Saída de Berlusconi

O escritor foi defensor da saída de Silvio Berlusconi do cargo de primeiro-ministro na Itália, em meio ao escândalo sexuais, acusações de corrupção e crises financeiras no país. Berlusconi renunciou em novembro de 2011. "É o fim de um pesadelo", disse Eco naquele ano, numa entrevista destinada a promover seu novo romance, "O Cemitério de Praga".

"Teríamos tido esta crise econômica sem Berlusconi, mas o problema teria sido mais leve. Ele não é respeitado no exterior, então não pode representar o país", disse Eco à época para a agência Reuters, inflamado e agitando um charuto fino e apagado entre os dedos.

Fotografia de Umberto Eco sorrindo.
O escritor Umberto Eco, na cerimônia dos vencedores do Prêmio Príncipe das Astúrias, em Oviedo, em 27 de outubro de 2000 (Foto: Desmond Boylan / Reuters)

Livros impressos e jornais

O escritor acreditava que os livros impressos não desaparecerão por causa das versões eletrônicas. "Não conseguiremos nos livrar dos livros", afirmou em 2009, em uma entrevista coletiva horas antes de receber uma medalha de honra em Madri. "Eu não poderia ler Proust em formato digital. Seria impossível. Se eu tivesse que deixar um legado para o futuro, deixaria um livro, e não em formato digital", afirmou.

Mas com relação ao jornal impresso, não se mostrou tão otimista. "Eu gosto de abrir as folhas do jornal tomando o café de manhã, mas já não sei se isso é o que meu neto pensa", disse na mesma entrevista.

O escritor foi além ao afirmar que, "para fazer um jornal, são perdidas 40 páginas com publicidade". "Os jornais são obrigados a conseguir muitas notícias para sobreviver e não estão dispostos a abandonar a batalha. Hoje há uma censura por excesso de informação", acrescentou.

Na ocasião, Eco também afirmou que os intelectuais "não têm virtudes proféticas, que a figura do intelectual é um mito da esquerda". No entanto, acreditava que "o intelectual tem que influenciar mais em longo prazo, não de forma imediata".

A partir da década de 1970, passou a centrar seu foco quase que exclusivamente da semiótica.
Esta notícia foi publicada no site G1 em 19 de fevereiro de 2019. Todas as informações nela contidas são de responsabilidade do autor.
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