Disciplina - Filosofia

Filosofia & Ciências

03/02/2015

Estética e filosofia

Artistas e filósofos; estética e filosofia


Edimar Brígido


O filósofo vienense Ludwig Wittgenstein nutria a firme convicção de que a arte era um meio possível de encontrar a solução para os diversos conflitos que cercavam a vida humana. De acordo com ele, a arte em geral poderia conduzir a vida a um fim positivo, no sentido de uma satisfação ou uma liberdade. A liberdade e a paz resultantes da música e do poema não são um estado meramente psicológico, mas um sentimento de admiração e de respeito para com a linguagem poética e a expressão musical. É assim com a atividade estética, assim deve ser com a atividade filosófica.

Ao aplicar o modo eficaz de investigação estética na investigação filosófica, o resultado será a cura da doença da qual muito tempo padece a própria filosofia. Trata-se da pretensão wittgensteiniana de “terminar” com a filosofia, de encontrar as terapias adequadas para solucionar a enfermidade, para dissolver todos os problemas (filosóficos e existenciais) que afligem os filósofos.

Existem diversas terapias e, ao fazer uso da terapia adequada, o resultado será a superação dos problemas – consequentemente, a tão desejada paz filosófica será alcançada. Trata-se do regresso ao cotidiano, onde a vida de fato acontece; trata-se da redescoberta das palavras e do seu devido uso, o qual Wittgenstein compara com a imagem de um homem que estava perdido e reencontra o caminho de retorno a casa.

É no cotidiano, na dimensão mais ordinária da vida, entendido como lugar onde as experiências ocorrem, que se encontra a solução para os problemas existenciais e filosóficos, e por isso Wittgenstein afirma em Cultura e Valor que a filosofia não pode ser uma ciência, mas ela é como a arquitetura e só deveria ser poesia. Os problemas de filosofia nascem justamente com o espanto dos filósofos diante do esplendor da vida, e isso teoria nenhuma é capaz de curar.

Para concluir, Wittgenstein recorda que, em se tratando de filosofia, a paz nunca será duradoura e, novamente, a atividade filosófica deve ser retomada. Desse modo podemos considerar que acabar com a filosofia é impossível, simplesmente porque é impossível acabar com os fenômenos que tocam a vida humana. A filosofia nasce desse embate entre a vida, o espanto e o desejo de comunicar. Isso se aplica a todas as pessoas que pensam, observam e se assombram, mas particularmente aos filósofos, poetas e artistas. Existe, portanto, um sentimento humano que sempre se faz ouvir, o qual não é possível silenciar e, ao dar ouvidos a esse sentimento que inflama o homem, a atividade filosófica precisa ser retomada – afinal, a filosofia é uma questão de sensibilidade, assim como a arte.

Edimar Brígido, escritor e professor universitário, é mestre e doutorando em Filosofia pela PUCPR.
Esta notícia foi publicada no site Gazeta do Povo em 02 de Fevereiro de 2014. Todas as informações nela contidas são de responsabilidade do seu autor.
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