Disciplina - Filosofia

Filosofia & Ciências

13/10/2008

Kant - Alemão que inspirou franceses

No ensaio Resposta à Pergunta: Que é Esclarecimento? Kant defende a liberdade de expressão e a conquista da autonomia intelectual
Publicado em 13/10/2008 | Marcela Campos
O texto Resposta à Pergunta: Que é Esclarecimento? foi escrito pelo filósofo alemão Immanuel Kant em 1783, seis anos antes da Revolução Francesa, movimento inspirado pelos ideais iluministas e que alterou o quadro político e social da época. Com o lema “liberdade, igualdade e fraternidade”, a revolução aboliu o regime absolutista e consolidou o poder econômico da burguesia. “O Iluminismo foi um movimento de emancipação intelectual e política que marcou o século 18 em toda a Europa. Nesse período, a ciência combate a superstição e há a constante procura da liberdade política, que se opunha ao absolutismo. Foi, enfim, uma época que fundou as bases da sociedade democrática moderna”, descreve o professor Jair Barboza, que dá aulas de Filosofia na PUCPR.
Testemunha dos acontecimentos revolucionários do período, Kant defende a instauração do domínio da razão e da liberdade. No início de seu ensaio, o filósofo define o que chama de imaturidade e expõe o conceito de aufklaerung, termo alemão que pode ser traduzido por “iluminismo”, “esclarecimento” ou “ilustração”. “Kant vai dizer que o iluminismo é a saída do ser humano da sua imaturidade (menoridade intelectual) e essa imaturidade, para ele, significa a incapacidade de a pessoa servir-se do próprio entendimento. O esclarecimento ocorre quando a pessoa tem a coragem de ser crítica, isto é, de servir-se do próprio entendimento na procura do conhecimento e de sempre examinar o que lhe é transmitido”, afirma Barboza.
Segundo Kant, o próprio homem é culpado por sua imaturidade, porque, podendo fazer uso do seu entendimento, deixa-se guiar por outras pessoas, por preguiça ou covardia. O filósofo afirma que os homens muitas vezes preferem pagar para que outros pensem em seu lugar. “Para Kant, é muito cômodo ser imaturo, não se servir da crítica, porque existe muita gente que faz isso por você. E ele até ironiza, dizendo que, se há livros que substituem o nosso entendimento, se há psicólogos que cuidam da nossa consciência, se há médicos que cuidam da nossa dieta, por que nos preocupar em adquirir tais conhecimentos? E aí há uma preocupação sociológica de Kant. Para ele, as pessoas que não conquistam o esclarecimento viram massa de manobra daqueles que fazem uso utilitário de certos conhecimentos”, diz o professor.
De acordo com o filósofo alemão, o homem prefere entregar o seu esclarecimento a tutores, que mostram aos seus “pupilos” o perigo que os ameaça caso tentem “andar” sozinhos. O pensador diz que essa intimidação é realizada por preceitos e fórmulas, e cita como exemplo a atitude das autoridades religiosas que convocam a comunidade a crer sem questionamentos. “Kant diz que a imaturidade religiosa é a mais perniciosa de todas e isso torna o texto bastante atual, pois a nossa época é marcada por várias formas de fanatismo religioso, e isso cega as pessoas. As religiões podem infundir o medo e cegar os fiéis, que passam a ser usados por alguns como ferramentas de poder”, afirma.
O professor explica que, para Kant, todo indivíduo vive uma situação de menoridade no início do seu processo de formação, mas há uma hora em que ele precisa se distanciar de seus mestres, analisando criticamente o que dizem. “Nós precisamos de educação, só que há um momento da nossa formação em que temos de nos servir do próprio entendimento. É mais ou menos como um adolescente que em determinada época tem de sair de casa para se virar na vida”, compara. Segundo Kant, os homens só atingem o esclarecimento por meio do “uso público da razão”, que nada mais é do que a liberdade de expressão. “Kant distingue o uso público do uso privado da razão. O uso privado é aquele que uma pessoa faz em uma função que lhe foi designada. Um oficial, por exemplo, precisa obedecer às regras que regem o serviço militar e, assim, faz uso privado da razão. Só que, caso ele discorde da condução de alguma tática de guerra, ele tem o direito de, diante de pessoas letradas, conhecedoras do assunto, fazer o uso público da razão, ou seja, exercitar a crítica”, afirma.
Na próxima semana a série sobre os cinco autores do programa de Filosofia da UFPR termina com uma reportagem sobre Merleau-Ponty.
Fonte: http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/vestibular/conteudo.phtml?tl=1&id=816740&tit=Alemao-que-inspirou-franceses
Recomendar esta notícia via e-mail:

Campos com (*) são obrigatórios.