Disciplina - Filosofia

Interclasse filosófico

Wigvan Pereira
Canal do Ensino


A atividade que chamamos de “Interclasse Filosófico” é um jogo de perguntas e respostas referente ao conteúdo ministrado em sala de aula. É uma ótima maneira de subverter o preconceito que os estudantes costumam ter com a Filosofia, que os leva a considerá-la algo cansativo, chato e distante de suas realidades. Além disso, é uma ótima forma de integrar os estudantes de turmas diversas e proporcionar a eles uma oportunidade de estudarem juntos. Do ponto de vista do conteúdo, os estudantes poderão fixar os temas trabalhados, em sala e nas séries anteriores, e ter uma primeira aproximação com assuntos nos quais se aprofundarão nos anos seguintes.

Vamos lá:

1) Preparação

Todo o projeto é construído a partir do seguinte objetivo: estimular a capacidade de relacionar-se criativamente com o conteúdo de Filosofia.

Por isso, todas as atividades propostas serão articuladas de uma forma que respeite a liberdade dos estudantes em traçar seus percursos e permita a expressão de suas ideias.

As atividades consistem em:

a) Elaboração de perguntas (objetivas e discursivas) e respostas a respeito de uma bibliografia básica;

b) Produção de um material audiovisual de até 7 minutos;

c) Produção de um pôster a respeito de um conteúdo escolhido pelos estudantes;

d) Escrita de um texto de, no mínimo, 30 e, no máximo, 75 linhas;

e) Realização de um debate a respeito de um texto filosófico.

O professor/A professora tem a responsabilidade de deixar explícitos os objetivos de cada etapa, os critérios avaliativos e a importância da realização da atividade para a aquisição de conhecimento. O professor/A professora não desempenhará um papel prescritivo, ou seja, não indicará formas e métodos; sua função é a de um orientador participativo que facilita o percurso, auxilia a reverter dificuldades e mostra opções para que os alunos cheguem ao destino que escolheram.

Na primeira atividade, por exemplo, o professor/a professora pode mostrar exemplos de perguntas que são mais interessantes ou sugerir que elaborem perguntas em diferentes níveis de dificuldade. Para elaborar boas questões, os estudantes precisam conhecer o conteúdo e elaborá-lo.

Na segunda atividade, o professor/a professora pode orientar os estudantes a diversificarem suas produções audiovisuais: podem ser produzidos, por exemplo, um pequeno documentário, uma videoaula, um curta de ficção, uma simulação de telejornal etc.

Na terceira atividade, o professor/a professora pode orientar a respeito de uma forma de sintetizar o conteúdo e de escolher imagens que dialoguem com ele. Também pode propor temas, se os estudantes estiverem com dificuldade.

Na quarta atividade, o professor/a professora pode, além de oferecer uma bibliografia para que o estudante se aprofunde no tema que escolheu, sugerir alterações na estrutura do texto, contribuir para a seleção de vocabulário, apontar problemas em relação à norma culta da língua portuguesa e ajudar a desconstruir ambiguidades, contradições e imprecisões conceituais. O cuidado que o professor/a professora deve tomar é o de não alterar a narratividade do estudante e furtar dele a autoria da escrita. O estilo pode variar entre carta, conto, dissertação e quaisquer outros gêneros textuais – não nos esqueçamos de que a Filosofia tem várias formas escritas.

Na quinta atividade, o professor/a professora pode antecipar temas que serão discutidos e até mesmo realizar simulações em sala de aula para que os estudantes percam o receio e sintam-se mais confiantes. Também pode orientar a leitura do texto estabelecido como tema do debate, solucionando dúvidas e dificuldades conceituais. Pode, inclusive, criar um roteiro de leitura para contribuir para que os estudantes percebam os pontos mais importantes.

2) Organização


a) Formação dos grupos:


Para que a atividade se torne mais interessante e cumpra, de fato, um papel integrador, o professor/a professora pode formar grupos com estudantes de turmas e séries diferentes. Por exemplo, se houver duas turmas de cada série do Ensino Médio, pode formar um grupo com seis estudantes – um de cada turma. A depender do número de estudantes matriculados, o grupo pode ter mais ou menos estudantes, tomando o cuidado para que não se forme um grupo grande demais, que abriga o risco de alguns componentes ficarem sem atividade a desempenhar, ou um grupo pequeno demais, que abriga o risco de sobrecarregar os componentes e prejudicar o rendimento.

Um grupo de diversas faixas etárias e níveis de escolaridade é um desafio que contribuirá para que os estudantes desenvolvam habilidades de trabalho em equipe. Além disso, poderão rever assuntos estudados em anos anteriores e dos quais já não se lembram com tanta profundidade. Para os alunos do Primeiro Ano, é uma excelente oportunidade para ter contato com temas da filosofia nos quais se aprofundarão nos anos seguintes.

O professor/a professora pode formar esses grupos a partir de um sorteio ou pode, se conhecer bem as turmas, mesclar estudantes com níveis de dificuldade diferentes para que possam contribuir uns com os outros e solucionar entre eles as dúvidas a respeito do conteúdo que não conseguiram solucionar a partir das aulas.

b) Escolha dos temas:


Depois da composição dos grupos, o professor/a professora terá que se preocupar em estabelecer o conteúdo que será o objeto de estudo para que os estudantes possam começar a elaborar as questões. Se o professor/a professora usar um livro didático, pode indicar as páginas que compreendam o programa de cada uma das séries.

No entanto, o professor/a professora pode eleger uma obra filosófica a ser estudada por todos os estudantes ou, ainda, eleger uma bibliografia básica com títulos diversos. Certamente, o contato com a obra filosófica é mais interessante, tudo depende da disponibilidade de tempo do professor/da professora para fazer a leitura com os alunos.

Quanto mais diversificada for a bibliografia, mais enriquecida será a atividade, mas o professor/a professora precisa verificar fatores como a disponibilidade de tempo dos estudantes para a realização das leituras e se todos terão acesso aos livros – se estão disponíveis em bibliotecas, na internet ou se os estudantes têm condição financeira de adquiri-los. Sem tomar esse cuidado, a atividade pode ficar comprometida e funcionar em sentido oposto ao objetivo, gerando mais resistência em relação ao estudo de Filosofia.

O professor/a professor pode também optar por uma terceira via: usar o livro didático e acrescentar trechos de obras filosóficas para que os estudantes tenham contato com a escrita filosófica.

c) Elaboração das perguntas:


Formados os grupos e escolhido o conteúdo a ser trabalhado, os estudantes serão orientados na elaboração de um número de perguntas determinado pelo professor/professora, mesclando níveis de dificuldade. Os estudantes podem variar também a forma da pergunta: um pedido de comentário sobre uma frase ou conceito filosófico e perguntas objetivas com opções, por exemplo.

O professor/a professora ficará com uma cópia das questões, que também devem ser respondidas pelos estudantes.

d) Produção do material audiovisual e do pôster:


Tanto para o material audiovisual quanto para a produção do pôster, cada grupo precisará definir um tema que esteja dentro do conteúdo indicado. Para a produção audiovisual, os estudantes podem fazer uso de aparelhos celulares ou webcam. Se o nível econômico dos estudantes impossibilitar a realização de um produto audiovisual, o professor/a professora pode pedir auxílio para a secretaria da educação e/ou cultura ou ainda suprimir essa etapa.

O pôster pode ser produzido com cartolinas ou papel de scrapbook, com o conteúdo manuscrito e imagens coladas de revistas e jornais.

Para a avaliação dessas duas atividades, o professor/a professora pode contar com a ajuda dos professores de artes da instituição.

e) Escrita do texto:


Cada grupo deverá entregar um texto ao professor/à professora sobre um tema relacionado com o conteúdo. O grupo pode eleger um componente para responsabilizar-se por essa atividade ou podem todos escreverem um texto para que o professor/a professora eleja o texto que representará o grupo na concorrência com outras turmas.

O professor/a professora deve ficar atento à produção do texto, pedindo para que os estudantes entreguem versões, ainda que inacabadas, dentro do cronograma que estabeleceu para a realização da atividade. Por exemplo, se segundo o cronograma do professor/da professora, os estudantes terão dois meses para se prepararem, podem entregar uma versão do texto a cada quinze dias, versão que será lida e devolvida para os estudantes com sugestões de escrita e indicações bibliográficas.

Para a avaliação dos textos, o professor/a professora pode pedir a ajuda de colegas professores da instituição que também lecionem Filosofia ou áreas afins, como Sociologia e História. Os professores de Língua Portuguesa e Literatura, sem dúvida, podem oferecer boas contribuições também. Nesse caso, é preciso pedir a ajuda dos colegas com antecedência para que eles possam organizar seus cronogramas.

f) Preparação para o debate


O professor/a professora pode selecionar uma obra filosófica ou um ensaio filosófico como ponto de partida para o debate. Esse texto deve ser estudado em sala de aula para certificar-se de que os estudantes sentem-se preparados para pensarem a partir dele. O debate pode ter um tema geral, como “O que me faz pensar?”, “Qual a importância da Filosofia para o mundo de hoje?”, “Qual vida vale a pena ser vivida?” etc. É importante que os estudantes desenvolvam a habilidade de relacionar o conteúdo do texto, suas vivências e as outras leituras e estudos que realizaram para a construção dos argumentos.

3) Realização


A professora/o professor de Filosofia pode organizar a realização em três etapas e distribuir a apresentação das atividades em cada uma delas:

a) Seletivas - Apresentação do material audiovisual e exposição dos pôsteres.


Para selecionar os grupos a se enfrentarem, a professora/o professor pode usar como critério a atribuição de nota para os trabalhos audiovisuais e para os pôsters. Pode separar um dia para a exibição dos filmes feitos pelos estudantes e convidar a comunidade para participar. Pode ser distribuída uma ficha avaliativa a todos os que assistirem às produções para que a professora/o professor possa ter mais um critério na composição da nota.

No entanto, o professor pode definir os grupos que se enfrentarão por meio de um sorteio e determinar que essa etapa de exibição e exposição seja apenas classificatória, atribuindo uma nota diferente para cada grupo que será computada ao final.

b) Semifinais – Jogo de perguntas e respostas


Divididos os grupos que se enfrentarão, a professora/o professor fará uma distribuição com base em seu cronograma. Talvez seja preciso dedicar a isso, no mínimo, o período equivalente a dez aulas de 45 minutos.

Pode-se usar o seguinte critério de eliminação:


1) Os grupos se enfrentarão fazendo um para o outro dez perguntas objetivas. Se a resposta dada por um for errada, o grupo autor da pergunta pontua e ganha o direito de fazer uma nova pergunta. Depois de cinco erros consecutivos, o grupo perde automaticamente a disputa. É importante, no entanto, que a professora/o professor atribua pontuação mesmo para os grupos que tenham perdido.

2) Se, por exemplo, forem 20 grupos participantes, depois dessa fase, restarão apenas dez.

3) Os dez enfrentam-se agora propondo perguntas discursivas, e restam cinco grupos.

Todos os eliminados até então se enfrentam novamente em pares, ou seja: dois grupos enfrentam-se a cada vez, para ser feita a repescagem de um grupo que poderá concorrer a uma vaga na final.

Os seis grupos enfrentam-se em pares e restam os três grupos que participarão do debate.

c) Final: Debate e Texto.


Os três grupos participarão do debate e suas intervenções serão pontuadas pela professora/pelo professor. A soma dos pontos obtidos em cada etapa e dos pontos atribuídos pela banca ao texto definirá o grupo vencedor.

4) Autoavaliação


A fim de ter um critério a mais para formar a nota, a professora/o professor pode pedir que cada grupo faça uma avaliação do próprio desempenho, relatando o desempenho de cada integrante do grupo, as atividades de que foram incumbidos e de como as realizaram. Esse processo de autocrítica é muito importante para que os estudantes percebam a responsabilidade que têm na nota da disciplina – que a nota não é um conceito atribuído arbitrariamente pela professora/pelo professor, e sim o resultado de suas decisões individuais ao longo do percurso.

5) Premiação


Se for viável, a professora/o professor pode premiar os três finalistas com livros de filosofia, um grande incentivo para se empenharem cada vez mais em seus estudos.
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