Disciplina - Filosofia

Padrão de Gosto - Encaminhamento

1ª Aula:

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Imagem
"As Três Graças"



Iniciar a aula apresentando a imagem da obra “As Três Graças”, de Peter Paul Rubens.

Ler a imagem com os alunos e solicitar que eles comentem suas primeiras impressões sobre o quadro de Rubens, questionando-os sobre:

1) O que a imagem representa?
2) Quais elementos são retratados?
3) Qual é a expressão no rosto das mulheres?
4) Qual sensação elas transmitem?
4) Há beleza nesta obra?


Observar os comentários dos alunos e as associações feitas. Em relação à beleza, é provável que eles afirmem que as Graças não estariam nos padrões atuais e esta observação fomentará a discussão seguinte sobre padrões de beleza. Caso os alunos não comentem, falar sobre a expressão graciosa e as formas femininas.
Este quadro de Peter Paul Rubens (1577–1640), intitulado “As Três Graças”, representa as Graças, ou Cárites, que simbolizam a beleza. Na mitologia grega, as Graças (ou Cárites) são as deusas do encantamento, da beleza, da natureza, da criatividade humana e da fertilidade da dança. Eram filhas de Zeus e Hera, segundo umas versões, e de Zeus e da deusa Eurínome, segundo outras. Por sua condição de deusas da beleza, eram associadas a Afrodite, deusa do amor (ou a Vênus, na mitologia romana) e dançarinas do Olimpo. Também se identificavam com as primitivas musas, em virtude de sua predileção pelas danças corais e pela música. Ao que parece, seu culto se iniciou na Beócia, onde eram consideradas deusas da vegetação. O nome de cada uma delas varia nas diferentes lendas. Na Ilíada, Homero fala a respeito de apenas uma Cárite, esposa do deus Hefesto. Apesar das variações regionais, o trio mais frequente é: Aglaia - a claridade; Tália - a que faz brotar flores; Eufrosina - o sentido da alegria.
Ao longo da História da Arte, há diversas representações das Três Graças, sempre com o simbolismo da beleza e da graciosidade.


Logo após a interpretação, comentar com os alunos que do mesmo modo que ocorre com um texto, uma obra de arte pode ser lida de diferentes maneiras em função da sua interpretação. Há diversas possibilidades de releituras da obra. A releitura depende da compreensão, pois reler não significa copiar (no sentido de uma mera reprodução), mas exercitar a criatividade. Na releitura de um quadro, por exemplo, é possível utilizar outras formas de expressões artísticas, tais como desenho, a escultura, a fotografia, colagem... O importante é criar algo novo, porém relacionado à obra original que serviu de inspiração.

Leitura Complementar

Professor, saiba mais sobre Releitura de Imagens. Este conteúdo poderá ser acessado com os alunos para que eles visualizem exemplos de releituras de imagens.
  • Links Interessantes:
“Defina os conceitos de releitura e apropriação. É tudo cópia?”


A partir da ideia da releitura de imagens, propor que cada aluno produza sua própria releitura da obra “As Graças”, de Rubens.
Professor, deixe os alunos à vontade para criarem suas releituras do quadro de Rubens. A partir da ideia exposta pelo artista, os alunos deverão criar uma obra própria (através da forma de expressão escolhida) que represente “suas graças”.

Expor as produções dos alunos, identificando com eles as características de cada. Solicitar que os alunos anotem as características das releituras efetuadas por eles próprios.

Propor aos alunos a seguinte questão: O que define a beleza?

Após as explanações dos alunos, emendar a discussão com a questão “gosto se discute?”
Observar os comentários dos alunos. A partir destes comentários, dizer que os critérios de gosto são construídos.
Professor: as explicações desta sequência de aulas estão baseadas no pensamento do filósofo escocês David Hume (7 de Maio de 1711 – 25 de Agosto de 1776) e os fragmentos foram extraídos do texto “Do padrão do gosto”.


Sugestões de leitura para aprofundamento do professor:
  • Artigo
O padrão do gosto em David Hume, de Robson Stigar
  • Dissertação
O padrão do gosto na filosofia de Hume: um argumento e seus aspectos, de Rafael Fernandes Barros de Souza

2ª Aula

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Dove Evolution



Ler com os alunos os fragmentos de “Do padrão do gosto”, de David Hume.

“Assim, embora os princípios do gosto sejam universais, e aproximadamente, senão inteiramente, os mesmos em todos os homens, mesmo assim poucos são capazes de julgar qualquer obra de arte, ou de impor seu próprio sentimento como padrão de beleza. Raramente os órgãos da sensação interna são suficientemente perfeitos para permitir o pleno jogo dos princípios gerais, produzindo um sentimento correspondente a esses princípios. Ou possuem alguma deficiência ou são viciados por alguma perturbação, e vão assim provocar um sentimento que pode ser considerado errôneo. Quando um crítico não possui delicadeza, julga sem qualquer critério, sendo afetado apenas pelas qualidades mais grosseiras e palpáveis do objeto: as pinceladas mais finas passam despercebidas e desprezadas. Quando não é ajudado pela prática, seu veredicto é acompanhado de confusão e hesitação. Quando não faz qualquer comparação, as belezas mais frívolas, que mais mereceriam o nome de defeitos, tornam-se objetos de sua admiração. Quando se deixa dominar por preconceitos, todos os seus sentimentos naturais são pervertidos. Quando lhe falta o bom senso, é incapaz de distinguir as belezas do desígnio e do raciocínio que são as mais elevadas e excelentes. A maioria dos homens sofre de uma ou outra dessas imperfeições, e por isso acontece que o verdadeiro juiz das belas-artes, mesmo nas épocas mais cultas, seja uma personalidade tão rara. Só o bom senso, ligado à delicadeza do sentimento, melhorado pela prática, aperfeiçoado pela comparação, e liberto de todo preconceito, é capaz de conferi aos críticos esta valiosa personalidade, e o veredicto conjunto dos que a possuem, seja onde for que se encontrem, é o verdadeiro padrão do gosto e da beleza”.
(HUME, David. Do padrão do gosto. P. 344)

Explicar aos alunos que neste fragmento Hume defende a concepção de que o padrão do gosto e da beleza é determinado pelo bom senso. Este bom senso se relaciona aos sentimentos mais delicados, no sentido de mais delicados e aperfeiçoados (por possuírem capacidade de percepção dos detalhes mais sutis), sendo que tal aperfeiçoamento e delicadeza provêm da prática da contemplação. Estar diante de variadas coisas, produções e seres possibilita um olhar mais apurado sobre eles, evitando preconceitos ou más compreensões. O padrão de gosto e a beleza estão na mente – não se encontram nos objetos, mas em nosso sentimento. Por isso a delicadeza é essencial.

Retomar a discussão sobre as releituras do quadro “As Graças” através da exibição das produções dos alunos. Solicitar que eles leiam as anotações feitas na primeira aula para dizer que a atribuição de beleza dada a cada produção depende do sentimento de bom senso.

Continuar a leitura do texto “Do padrão do gosto”.

“Mas na realidade a dificuldade de descobrir um padrão de gosto, mesmo de maneira particular, não é tão grande como se pensa. Embora teoricamente se possa reconhecer prontamente um certo critério na ciência, e ao mesmo tempo negá-lo no sentimento, verifica-se na prática que a questão é muito mais difícil de decidir no primeiro caso do que no segundo.”
(..)
“Embora sejam raros os homens de gosto delicado, é fácil distingui-los na sociedade, pela solidez de seu entendimento e pela superioridade de suas faculdades sobre as do resto da humanidade.”
(HUME, David. Do padrão do gosto. P. 345)

Estes dois fragmentos confirmam a tese apresentada nos fragmentos anteriores. O primeiro atesta que não é difícil estabelecer o padrão de gosto partindo do sentimento (afirmando que o gosto está em nossa mente) e que os homens com gosto delicado são facilmente reconhecidos por conta de sua melhor compreensão e refinamento.


Exibir o vídeo Dove Evolution e questionar os alunos sobre qual seria a real beleza da modelo.
Explicar aos alunos que as imagens repassadas pelos meios midiáticos daquilo que afirmam ser “o padrão de beleza” são imagens construídas. A modelo ora pode parecer mais bela no início do vídeo, ora ao longo, ora no final. O vídeo da campanha permite perceber a mudança em sua aparência, que é transformada em um “padrão”, porém muitos alunos podem considerar mais bela a imagem da modelo nos momentos iniciais do vídeo.

Solicitar que os alunos anotem suas impressões sobre o vídeo para relacioná-las com o fragmento a seguir, articulando as concepções de que o padrão de gosto varia conforme a pessoa a suas experiências.

Seguir com a leitura do texto de Hume.

“Mas, não obstante todos os nossos esforços para estabelecer um padrão do gosto e conciliar as concepções discordantes, continua havendo duas fontes de variação que, embora evidentemente não bastem para confundir todos os limites entre a beleza e a deformidade, muitas vezes têm como efeito a produção de uma diferença nos graus de nossa aprovação ou censura. Uma delas são as diferenças de temperamentos entre os indivíduos, a outra são os costumes e opiniões peculiares de nossa época e de nosso país.
(…)
Um jovem que seja dotado de cálidas paixões será mais sensível às imagens amorosas e ternas do que um homem de idade mais avançada, que encontra prazer em sábias e filosóficas reflexões sobre a conduta da vida e a moderação das paixões. Aos vinte anos, Ovídio pode ser o autor preferido; aos quarenta, Horácio; e talvez Tácito aos cinquenta.
(…)
A uma pessoa agrada mais o sublime, a outra agrada a ternura, e a uma terceira a ironia. Uma é extremamente sensível aos defeitos, e estuda atentamente a correção das obras, e outra é mais vivamente sensível às belezas, e perdoa vinte absurdos e defeitos em troca de uma passagem inspirada ou patética. O ouvido de uma pessoa está inteiramente voltado para a concisão e a energia, e outra se delicia sobretudo com uma expressão copiosa, rica e harmoniosa. Uns preferem a simplicidade, outros a ornamentação. A comédia, a tragédia, a sátira, as odes, cada uma tem seus partidários, que preferem a todas as outras uma determinada forma de escritura. É indubitável que seja um erro um crítico limitar sua aprovação a uma única espécie ou estilo literário, condenando todo o restante. Mas é quase impossível deixar de sentir uma certa predileção por aquilo que se adapta melhor a nossa disposição e inclinações pessoais. Essas preferências são inocentes e inevitáveis, e não seria sensato torná-las objetos de disputa, pois não há padrão que possa contribuir para decidi-las.”
(HUME, David. Do padrão do gosto. P. 346-347)

Estes últimos fragmentos mantêm a tese de que os padrões de gosto e beleza não são universais ou previamente definidos, pertencentes ao objeto, mas pertencem ao sujeito e variam conforme a experiência. Para refinamento do gosto, o contato com várias obras é fundamental, aperfeiçoando sua delicadeza que consiste na capacidade de perceber as variações de forma e os detalhes mais sutis.


3ª Aula

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Dove Retratos da Real Beleza



Exibir o vídeo da campanha Dove Retratos da Real Beleza.
Esta campanha enfatiza a diferença no olhar sobre si mesmo e no olhar do outro sobre si, mostrando que muitas vezes a cobrança das pessoas por um padrão impede uma percepção do que pode ser belo.

A partir desta diferença do olhar sobre si mesmo e sobre os outros, tal como apresentado no vídeo, perguntar aos alunos “qual é a necessidade que muitos afirmam possuir de 'seguir' um padrão?”.
Antecipando o que vai ser abordado no fragmento de Hume da sequência, dizer aos alunos que não podemos falar em “padrão”, pois a percepção da beleza difere entre os sujeitos.

Ler o seguinte fragmento de Hume:

“A beleza não é uma qualidade das próprias coisas, existe apenas no espírito que as contempla, e cada espírito percebe uma beleza diferente. É possível até uma pessoa encontrar deformidade onde uma outra vê apenas beleza, e todo indivíduo deve aquiescer a seu próprio sentimento, sem ter pretensão de regular o dos outros. Procurar estabelecer uma beleza real, ou uma deformidade real, é uma investigação tão infrutífera como procurar determinar uma doçura real ou um amargor real. Conforme a disposição dos órgãos do corpo, o mesmo objeto tanto pode ser doce como amargo, e o provérbio popular afirma com muita razão que gostos não se discutem. É muito natural, e mesmo absolutamente necessário, aplicar este axioma ao gosto mental, além, do gosto corpóreo, e assim o senso comum, que tão frequentemente diverge da filosofia, sobretudo da filosofia cética, ao menos num caso está de acordo em proferir idêntica decisão.”
(HUME, David. Do padrão do gosto. P. 336)

Explicar aos alunos que há uma tendência em se buscar um padrão de gosto ou uma definição única de beleza, do que é belo. Porém, como afirmado no texto de Hume, a multiplicidade de sentimentos, opiniões, gostos existentes e vivências influenciam a concepção do que é o belo. Diante desta afirmação, fica claro que não é possível falar em universalização do gosto ou em uma beleza a priori.


Este fragmento, relacionado aos outros fragmentos lidos, é a base para a próxima atividade a ser realizada pelos alunos. O desenvolvimento da aula segue a leitura do texto humeano sobre o padrão do gosto.

A partir deste fragmento de David Hume (e com referência aos lidos anteriormente), solicitar aos alunos a produção de um texto dissertativo que contemple as questões “É possível falar em 'padrão do gosto'? O que define a beleza?”
Deve ser avaliada a compreensão da concepção humeana de que o gosto (e por consequência a beleza) é objeto de discussão, não no sentido de uma definição universal, mas no sentido de que sua definição está na mente e depende das percepções, práticas, delicadeza e aperfeiçoamento.
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